terça-feira, 14 de outubro de 2014

Madrugada

     Eram em torno de 3 da manhã e minha cabeça trabalhava ansiosa, tinha muito o que fazer antes de sair. Liguei o note, conectei na internet, quanto tempo teria de internet? algumas horas na melhor das hipóteses, eu precisava salvar o máximo de informação que eu conseguisse, afinal em breve toda essa informação estaria perdida.
     A primeira pesquisa foi sobre como produzir energia elétrica, geradores a gasolina podiam funcionar bem, aonde eu conseguiria um? quanta gasolina ele consumiria?
     A minha preocupação com a eletricidade era bem simples, minha família tem uma chácara, pequena e próxima da cidade, há 20 anos era apenas um terreno de 5.000 m² cheio de mato mas hoje ela era telada, tinha uma casa, uma bomba de água, galinhas, algumas frutas, ou seja era p local ideal pra sobreviver por um longo tempo mas a bomba de água depende de energia elétrica e sem água não temos animais, nem plantas, nem nenhuma forma de vida ou seja a nossa sobrevivência dependeria dessa bomba funcionar.
         Numa situação dessas, com zumbis nas ruas, conclui que cerca de 50% das pessoas já teriam morrido ao amanhecer e até o final do segundo dia essa porcentagem subiria para 85%, ou seja era uma questão de horas pra ficarmos sem energia elétrica.

     A outra opção seria entrar num supermercado e aproveitar do estoque enorme de comida e água para sobreviver, mas quanto tempo as carnes durariam sem refrigeração? e os legumes? frutas? um mercado serviria de abrigo por uma semana no máximo, mas estamos no começo do inverno.
     Olhando os zumbis veio uma ideia na mente, eles estão mortos e apodrecendo, o que aconteceria com eles daqui um mês? a carne sumiria e eles seriam ossos? mas sem músculos eles conseguiriam se locomover? Minha aposta era que eles sumiriam em um mês ou dois pois estamos no inverno, se fosse verão em poucas semanas a carne apodreceria.
     O abrigo ideal então deveria durar pelo menos 2 meses, podendo virar permanente, a chácara encaixava nessa categoria desde que eu conseguisse manter a bomba de água pelo menos até eu aprender a cavar um poço, essa foi a segunda pesquisa.
     Salvei tudo que eu achei sobre, aquecimento solar, reuso de água, poços, geradores, plantações, pragas rurais da minha região, criação de animais, motor a combustão, fabricação de açúcar, álcool, sabão, curtir couro.
     Foi uma noite longa, tinha muito mais o que pesquisar quando percebi que estava amanhecendo, peguei uma mochila, coloquei roupas esportivas, que era tudo que tinha na loja, algumas toalhas, e fui para o banheiro, tomei um banho quente saboreando o que poderia ser meu último banho.
     Quando sai do banheiro Alice estava na porta, ela me olhou e entrou fechando a porta assim que eu sai, o olhar sério dela mostrava que apesar da animação do dia anterior ela sabia bem que a vida agora seria uma luta.

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A decisão


Depois de comermos a barra de cereais, Alice me ajudou com os curativos e me impressionou com seu conhecimento de anatomia, sabia dos músculos, ossos, tendões e principalmente sabia como fazer os curativos pra cada parte machucada.
Tentei ligar o note e conectar na internet: caos era a palavra. A rede ainda estava funcionando, mas por quanto tempo eu não sabia. Olhamos as notícias, mas estavam desatualizadas, provavelmente muitos dos destemidos jornalistas e blogueiros estavam entre as vítimas nessa altura.
“Temos que achar um local mais seguro, com comida e água e principalmente, ele deve ser longe dos centros populacionais” eu disse.
“Eu sei, aqui temos água e estamos seguros, mas não temos comida. O ideal seria um shopping...” ela disse, mas depois de refletir continuou: “Não, um shopping é um grande centro de pessoas. Precisamos ficar mais reclusos como no campo, mas precisamos de comida e água e isso é um fato. O ideal seria irmos as “compras” e depois ir até uma chácara ou fazenda. E o quanto antes melhor...”
“É tudo muito fácil de falar! Podemos ir andando até o supermercado que fica há duas quadras, entrar, pegar o que precisamos e colocar em mochilas e depois sair pra um agradável passeio a pé até uma fazenda ou chácara na área rural, deve demorar apenas umas 4 horas sem nenhum obstáculo. Vai ser até divertido!”
A irritação que sentia estava visível. Alice é uma garota atlética e devia estar adorando a idéia de sair ao ar livre, diferente de mim que tinha visto o caos que estava lá fora, mas sabia que ela tinha razão no que dizia e tive que me desculpar e resignar com a proposta do passeio.
“Você precisa melhorar esse seu gênio sabia? Se não acreditar que vai dar certo antes de fazer algo pode ter certeza que não vai dar certo! E outra coisa, não é culpa minha que essas coisas estão por ai então eu não vou ficar tolerando seu mau humor pra sempre!”
Mais uma vez ela me irritou e mais uma vez eu tive certeza de que ela estava certa. Acabei por me desculpar de novo e propus mudarmos de assunto.
“Ok, o plano é simples, mas vamos precisar de armas e boas ideias. O que você sabe fazer além de cair de telhados e arrombar cadeados?”
Sarcasmo... Segurei-me pra não comprar a briga e respondi: “Sou um tipo de nerd, entendo de tecnologia, livros, curiosidades...”
“Desculpa se não fui clara” ela disse me cortando “Quero saber o que você sabe fazer de útil!”
Respirei fundo de novo e disse:”Posso ajudar com os planos, sou bom em estratégia e também posso lutar, sou bem forte pra quebrar um crânio com um taco.”
“Um sim, mas em quanto tempo você se cansaria? É bom pensar num plano melhor do que a linha reta senhor espertinho” depois de uma pausa ela continuou “Seria bom termos algum tipo de veículo...”
“Se ele for silencioso e forte seria sim um ótimo auxílio, mas duvido que encontremos um desse aí fora nos esperando...”
“Então o senhor gênio podia fazer algo útil e arrumar um veículo assim ou pelo menos dar ideias construtivas em vez de ficar ai se lamentando da sua má sorte!”
Touchê! O golpe fora certeiro. Foi quando percebi a movimentação, ela andava de um lado pro outro, pegando roupas e colocando numa mochila. Numa dessas idas ela joga uma mochila em mim.
“Vamos com isso! Quero sair o mais rápido possível! Não se esqueça que quando mais rápido melhor!”
Troquei de roupa, calça e camisa social não eram roupas muito atléticas e as minhas tinham sofrido tanto quanto eu. Peguei um agasalho, tênis, taco de beisebol, curativos, garrafa d’água, conferi o estado do notebook e então eu vi a solução, ela estava pendurada na parede.
“Alice!” eu gritei, e ela veio.
“O que foi?” e como não respondi ela acompanhou meu olhar e sorriu. “Boa ideia, até que você é mais útil que eu esperava”.
Bicicletas: elas eram silenciosas, pequenas e rápidas. Com elas poderíamos cobrir um terreno maior sem chamar atenção.
“Vamos assim que amanhecer” - eu disse - “pois eles são cegos então podemos tirar vantagem da luz”.
Pof! Ela socou meu ombro com pouca força e falou:
“Certo, mas quem te elegeu ‘o lider’ heim?” e foi até o quarto do fundo rindo e fechou a porta.
Meu sono foi mais tranquilo do que eu esperava. Com minhas dores e com os monstros lá fora, tive um sonho belo em uma casa no campo protegida por telas, com animais e hortas, uma vida simples, mas longa.
Acordei no meio da noite sabendo exatamente onde ir e o que precisávamos pra chegar lá, só precisava pensar uma forma de convencer a Alice sobre o plano, seria difícil pois ele soava um tanto suicida mas dada a situação atravessar a rua já soava como um plano suicida.

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O encontro


Dor, esse sentimento virou uma constante na minha vida desde aquela manhã fatídica, e a cada dia o sentimento se intensifica mais. Agora acordo com uma nova dor localizada na nuca, meio zonzo, começo a me levantar e vejo que estou encima de alguns colchões de ginástica, a vista vai voltando vagarosamente.
Começo a olhar em volta pra identificar o ambiente, camisas de esporte, bolas, tênis esportivo, garota loira me olhando, material de ginástica, roupas de banho, balcão com um computador... Foi quando minha mente processou a informação eu olhei na direção da garota e dei um pulo pra trás, como um zumbi tinha entrado ali?
O “zumbi” começou a falar: “está tudo bem, está tudo bem, não vou te machucar...” Zumbis não falam, pelo menos não nos filmes, então olhei pra ela com mais atenção,  tinha 1,65 cabelos loiros presos num rabo de cavalo, era atlética e vestia shorts de ginástica e camisa esportiva feminina, na mão um taco de golf que ela jogou pra trás assim que eu olhei pra ele.
Minha única reação foi dizer “oi?”. Que ela respondeu com uma torrente de informações, ela falava tão rápido que eu, ainda em choque, não consegui acompanhar. No meio eu reparei que ela dizia sempre a mesma palavra: “desculpa”. Olhei pro taco no chão, senti a dor na nuca e ouvi mais um “desculpa”... Foi quando percebi o que tinha acontecido e gritei: “FOI VOCÊ! TEM IDEIA DE QUANTO ESTA DOENDO ESSA PANCADA?” ela respondeu apenas “Pelo seu estado eu achei que você era um deles”.
Olhei no espelho e vi que ela tinha razão: roupas rasgadas, ferimentos pelo corpo e eu devia ter gemido de dor quando apoiei o braço na porta...
Ela continuou: “Pelo seu estado você deve ter quase morrido, qual o seu nome?”
Eu: “Me chamo Mario, e você?”
Ela: “Alice, acho que você não estava ouvindo o que eu falava né? Bom, vou começar de novo, desculpa ter te acerta...”
Mario: “Não tem problema, o mais importante é se estamos seguros aqui.”
Alice: “não precisa estressar, estamos seguros, mas não sei como você entrou aqui”
Mario: “se algum deles conseguir entrar por onde eu entrei então estamos mais ferrados do que eu imagino”
Alice: “não foi isso que eu quis dizer, quero saber onde você estava, pois pelo estado parece que caiu de um avião direto aqui pros fundos”
Contei pra ela a minha história e ela me disse que a loja era do pai dela e hoje ele pediu pra ela abrir antes de ir pro treino de vôlei, daí o uniforme. Alice é estudante de educação física, trabalha na loja do pai e gosta de ir pra academia e de jogar vôlei. Foi quando ouvimos meu estomago, faminto olho pela janela e vejo que o dia já terminava, devia ter passado horas desacordado, a única coisa que me animava era que essa segunda-feira estava no fim.
Alice: “pelo visto você deve estar com fome, tenho algumas barras de cereais, mas não muitas...”
Foi quando eu percebi que não ficaríamos muito na loja, em breve faltaria comida e quanto mais fome passarmos menor nossas chances de chegar num local seguro. Essa segunda-feira iria ser realmente longa.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

A Loja


    Acordei com a luz do sol no rosto, o calor estava intenso e insuportável! Tentei me mexer, mas senti a dor aguda no braço esquerdo, aparentemente ele estava quebrado, mas não era fratura exposta.
    Tentei levantar apoiando o peso no braço direito e aí veio a dor na perna direita. Onde eu estava com a cabeça quando achei que conseguiria pular pelos telhados? E agora? Como eu descerei desse telhado sem poder usar um braço e uma perna?
    Lamentar não ia ajudar em nada, olhei em volta, procurei algo e achei os pedaços de ripa que eu quebrei na queda. Rasguei a camisa e amarrei a madeira como talas na perna e no braço. Precisava agora lavar os ferimentos, mas pra isso teria que estar dentro da loja.
    Com a perna imobilizada consegui, com muito esforço, subir no telhado e olhar o fundo da loja, onde pude ver uma área com um pequeno jardim. Poderia me jogar lá de cima, mas com certeza acabaria piorando meus ferimentos...
    Rolei o corpo e me segurei na calha, torcendo pra qualidade dela ser ruim, pois se ela fosse fraca entortaria e romperia, fazendo da queda de dois metros algo próximo a meio metro, mas a calha era de ótima qualidade e não se rompeu com meu peso, mas estava machucando minha mão direita. Ótimo não? Além de um braço quebrado eu teria uma mão inutilizada, seria mais fácil me jogar na rua e me tornar um deles.
   Soltei a mão, enquanto ainda a tinha, e cai encima da perna boa e bati o calcanhar com força no chão. Eu sinceramente achava que não podia doer mais, mas doeu.
   Sentei no chão e vi uma janela com grade, lógico, o que mais eu esperava? Uma recepção calorosa? Um lanchinho? Uma porta aberta com uma garota bonita que viria cuidar dos meus ferimentos? Fazia todo sentido o dono deixar a loja aberta pros ladrões entrarem.
    Olhei a porta, ela estava presa a parede com uma corrente e nela tinha um cadeado, vi ali uma oportunidade, revirei a mochila do note que eu havia pegado no escritório, tinha que ter pelo menos um... Foram os dois minutos mais ansiosos do meu dia e pela primeira vez algo dava certo! Achei um clipe de papel!
    Quebrei o clipe em dois e forcei a memória pra lembrar o que eu tinha lido sobre arrombamento, era colocar um dos ferrinhos dando um torque enquanto o outro, com um pequeno ganchinho na ponta, passava pela parte mais externa da fechadura.
    Tentei por quase uma hora. As dores na mão direita e no braço esquerdo não ajudaram e eu estava quase desistindo quando vi uma pedra, peguei-a e coloquei toda minha frustração na pancada, mas aparentemente eu não tinha frustração suficiente. Atirei a pedra longe com meu mau-humor no ápice.
    Respirei fundo, me acalmei, olhei pros pedaços de clipe e resolvi tentar outra vez, mas com calma. Concentrei-me na tarefa e fiz tudo devagar, ignorando ao máximo minhas dores, e dessa vez o cadeado se abriu. Uma felicidade enorme me atingiu como um raio e não pude conter meu grito de vitória! Entrei pela porta e dei de cara um uma cozinha, pequena, mas pra mim era um palácio!
    Fervi água, peguei o sabão e lavei meus ferimentos, comi um pedaço de pão dormido e que refeição foi aquela! No entanto, antes de ir explorar o novo forte eu tinha que fechar a porta... Mas e agora? Fecharia o cadeado ou não? Procurei por toda cozinha até que encontrei as chaves do cadeado! Tranquei a porta, porém veio uma preocupação, tudo estava dando certo demais e isso me deixava apreensivo. O que mais poderia dar errado? Abri a porta da loja e dei dois passos, senti uma dor na cabeça e o mundo escureceu.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Corrida


     Ver Hana chorando me fez pensar no motivo da minha frieza. Desde a infância sempre foi assim, nos momentos de maior pânico e tensão eu fico alienado, distante e frio. Talvez seja um mecanismo de defesa natural ou talvez eu tenha algum problema mental, isso na verdade não importa, pois nesse momento eu fiquei muito grato por ter esse lado.
    Puxei Hana pelo braço, ela ainda soluçava, e levei-a para a cozinha, dei água com açúcar para acalmá-la, mas nada funcionava. Se ficássemos muito tempo ali morreríamos, já que a melhor arma que eu tinha era um cabo de vassoura e ele não serve pra quebrar a cabeça de ninguém.
    Tentei convencê-la de que daria tudo certo, de que precisávamos ir, de que morreríamos se ficássemos, mas ela não queria sair da “segurança” do escritório. Eu me pergunto o que você faria no meu lugar: morreria como um cavalheiro ao lado da dama indefesa? Houve um tempo em que eu teria feito isso, quando acreditava na bondade e no romance, mas esse tempo passou e eu a deixei lá, na cozinha, com minha promessa de retorno.
    Sei que deve ter pensado que minha atitude foi egoísta, mas porque eu deveria morrer por alguém que não tenta sobreviver? Como eu ajudaria alguém que não quer ser ajudada? Sai rápido pelos fundos, escalei o muro, me equilibrei no telhado e atravessei a casa.
    Lá de cima tive um vislumbre do que iria enfrentar centenas de zumbis nas ruas, caminhando de um lado pra outro e se guiando principalmente pelo som. Eis um ponto positivo em observar a situação antes de agir, você comete menos erros tolos e sabemos que um erro tolo me custaria tudo.
   Olhei ao redor e vi, a duas quadras, a loja esportiva. Como conseguiria chegar lá? Poderia tentar ir pelo telhado, mas assim que chegasse à esquina teria que ir pela rua. Como passaria pelos zumbis indo pela rua? Senti os batimentos mais acelerados, eu estava entrando em pânico e isso não seria bom. Ficar nervoso numa situação dessas é normal, mas fatal.
    Repirei por alguns minutos e pensei na respiração, concentrei todos os meus sentidos em não fazer nada, li isso tudo em algum livro durante meu colegial, o exercício de meditação ajuda a manter a calma e focar os sentidos... Mas não estava funcionando.
   A adrenalina estava alcançando seu objetivo, meus sentidos estavam dispertos para o ambiente e por isso estava tão difícil de meditar. Então resolvi aproveitar as vantagens da adrenalina. Ir até a esquina não foi fácil, não como teria sido há uns 5 anos antes, quando ainda tinha uma vida atlética ativa, mas depois que comprei o carro e aposentei a bike meu corpo ficou bem mais pesado.
   Cheguei à esquina, mas e agora? Precisava de uma distração pra poder correr os 100 metros que me separava do meu objetivo, não só isso precisava também saber como entrar na loja quando chegasse lá, pois nada adiantaria correr e depois não ter onde me proteger.
   Olhei ao redor, carros nas ruas, zumbis, árvores, postes, nada que me ajudasse muito. Aproveitei que estava no telhado e joguei uma telha no carro mais distante, assim o alarme do carro disparou e os zumbis começaram a se dirigir até o carro, minha distração fora executada com sucesso. Desci do muro pelo outro canto da casa e corri.
    Cheguei de frente a loja e meus temores foram concretizados, ela estava fechada, mas a do lado estava aberta. Roupas era tudo que eu precisava naquele momento, um visual novo. De qualquer forma eu entrei e fui pros fundos da loja, lá encontrei a chave no chão e com ela abri a porta que dava pro corredor do lixo.
   Tinha saido do escritório e abandonado outro ser humano a uma morte certa e isso tudo pra que? Pra me esconder no lixo... Realmente essa era uma segunda-feira típica onde tudo que você planeja fazer dá errado.
    Já tinha me conformado em morrer ali quando vi que podia tentar subir pelo telhado de uma loja e pular no da outra. Subi com grande dificuldade e tomei distância para saltar, alcançei o telhado da loja de esportes e cai sobre as telhas, esbarrei na laje com dor na coxa direita e no braço esquerdo, faltava ar e escorria sangue dos inúmeros cortes que eu havia conquistado na minha chegada a loja, mas eu havia me esquecido da laje. Dolorido e cansado, com a adrenalina baixando,  fechei os olhos e dormi desejando acordar na minha cama, perdendo hora pra mais um dia normal de trabalho, de preferência numa terça-feira.

sexta-feira, 1 de junho de 2012

Segunda - feira

Começou como uma segunda-feira típica - pensando bem tinha que começar numa segunda -, era inverno e estava a habitual neblina nas ruas. 
Acordei cedo, o que foi estranho já que costumo me atrasar nas segundas. Liguei o rádio pra ouvir as notícias enquanto tomava banho. O de sempre: mortes, assaltos, roubos. Nada que realmente chamasse a atenção. Troquei-me e tomei um café rápido, pois queria aproveitar a falta de trânsito matutino. Liguei o carro e sai.
As ruas vazias e o céu nublado me fizeram pensar: ”Porque não fiquei em casa debaixo das cobertas?”, mas como em toda segunda-feira eu tinha coisas realmente importantes pra resolver.
Ao chegar no escritório encontrei apenas a secretária. Liguei o computador e fui matar o tempo até o compromisso chegar e foi nesse momento que percebi.
Não sei bem como nem quando tinha começado, mas o pânico estava geral, ninguém sabia ao certo o que estava acontecendo e como agir, com exceção de alguns nerds e gamers, pessoas dizendo que era uma epidemia, outros que era uma nova droga, contudo a maioria acreditava no apocalipse.
Calmamente eu desliguei o computador, peguei o notebook do chefe, enchi a garrafa de água, disquei o ramal da secretária e perguntei se mais alguém tinha chegado. A resposta foi o óbvio não! Desci as escadas, expliquei pra Hana o que acontecia e ela, é claro, não acreditou.
Antes de sair do escritório eu precisava de uma arma. Procurei na cozinha: vassouras, rodinhos, facas de sobremesa, panelas, mas nada disso serviria pra minha defesa. E agora? O local mais próximo com alguma possibilidade de ter arma seria a loja de esportes que ficava 2 quadras do escritório. Mas como chegar lá? Cheguei a conclusão de que o quanto antes eu saísse maiores as chances de sucesso.
Foi quando ouvi o grito, Hana tinha descoberto a verdade da pior forma! Fui correndo até a portaria e encontrei a secretária chorando no chão, abraçando as pernas. Quando olhei pelo vidro vi cerca de 12 pessoas coberta de feridas, pele branca e olhos vítreos, com dentes amarelados e resmungando. A sorte dela foi que, por medo de assaltos, tinha um vidro de segurança.
Quando me ouviu ela virou os olhos pra mim com uma única frase silenciosa: Socorro! Uma súplica que eu compreendia muito bem e por isso só disse:
            “Me siga, seja rápida e silenciosa, se não fizer nada estúpido sairemos dessa vivos.”
E esse foi o começo de mais uma segunda-feira, mas que outro dia seria melhor para começar o apocalipse zumbi do que uma segunda-feira?