quinta-feira, 9 de agosto de 2012

A decisão


Depois de comermos a barra de cereais, Alice me ajudou com os curativos e me impressionou com seu conhecimento de anatomia, sabia dos músculos, ossos, tendões e principalmente sabia como fazer os curativos pra cada parte machucada.
Tentei ligar o note e conectar na internet: caos era a palavra. A rede ainda estava funcionando, mas por quanto tempo eu não sabia. Olhamos as notícias, mas estavam desatualizadas, provavelmente muitos dos destemidos jornalistas e blogueiros estavam entre as vítimas nessa altura.
“Temos que achar um local mais seguro, com comida e água e principalmente, ele deve ser longe dos centros populacionais” eu disse.
“Eu sei, aqui temos água e estamos seguros, mas não temos comida. O ideal seria um shopping...” ela disse, mas depois de refletir continuou: “Não, um shopping é um grande centro de pessoas. Precisamos ficar mais reclusos como no campo, mas precisamos de comida e água e isso é um fato. O ideal seria irmos as “compras” e depois ir até uma chácara ou fazenda. E o quanto antes melhor...”
“É tudo muito fácil de falar! Podemos ir andando até o supermercado que fica há duas quadras, entrar, pegar o que precisamos e colocar em mochilas e depois sair pra um agradável passeio a pé até uma fazenda ou chácara na área rural, deve demorar apenas umas 4 horas sem nenhum obstáculo. Vai ser até divertido!”
A irritação que sentia estava visível. Alice é uma garota atlética e devia estar adorando a idéia de sair ao ar livre, diferente de mim que tinha visto o caos que estava lá fora, mas sabia que ela tinha razão no que dizia e tive que me desculpar e resignar com a proposta do passeio.
“Você precisa melhorar esse seu gênio sabia? Se não acreditar que vai dar certo antes de fazer algo pode ter certeza que não vai dar certo! E outra coisa, não é culpa minha que essas coisas estão por ai então eu não vou ficar tolerando seu mau humor pra sempre!”
Mais uma vez ela me irritou e mais uma vez eu tive certeza de que ela estava certa. Acabei por me desculpar de novo e propus mudarmos de assunto.
“Ok, o plano é simples, mas vamos precisar de armas e boas ideias. O que você sabe fazer além de cair de telhados e arrombar cadeados?”
Sarcasmo... Segurei-me pra não comprar a briga e respondi: “Sou um tipo de nerd, entendo de tecnologia, livros, curiosidades...”
“Desculpa se não fui clara” ela disse me cortando “Quero saber o que você sabe fazer de útil!”
Respirei fundo de novo e disse:”Posso ajudar com os planos, sou bom em estratégia e também posso lutar, sou bem forte pra quebrar um crânio com um taco.”
“Um sim, mas em quanto tempo você se cansaria? É bom pensar num plano melhor do que a linha reta senhor espertinho” depois de uma pausa ela continuou “Seria bom termos algum tipo de veículo...”
“Se ele for silencioso e forte seria sim um ótimo auxílio, mas duvido que encontremos um desse aí fora nos esperando...”
“Então o senhor gênio podia fazer algo útil e arrumar um veículo assim ou pelo menos dar ideias construtivas em vez de ficar ai se lamentando da sua má sorte!”
Touchê! O golpe fora certeiro. Foi quando percebi a movimentação, ela andava de um lado pro outro, pegando roupas e colocando numa mochila. Numa dessas idas ela joga uma mochila em mim.
“Vamos com isso! Quero sair o mais rápido possível! Não se esqueça que quando mais rápido melhor!”
Troquei de roupa, calça e camisa social não eram roupas muito atléticas e as minhas tinham sofrido tanto quanto eu. Peguei um agasalho, tênis, taco de beisebol, curativos, garrafa d’água, conferi o estado do notebook e então eu vi a solução, ela estava pendurada na parede.
“Alice!” eu gritei, e ela veio.
“O que foi?” e como não respondi ela acompanhou meu olhar e sorriu. “Boa ideia, até que você é mais útil que eu esperava”.
Bicicletas: elas eram silenciosas, pequenas e rápidas. Com elas poderíamos cobrir um terreno maior sem chamar atenção.
“Vamos assim que amanhecer” - eu disse - “pois eles são cegos então podemos tirar vantagem da luz”.
Pof! Ela socou meu ombro com pouca força e falou:
“Certo, mas quem te elegeu ‘o lider’ heim?” e foi até o quarto do fundo rindo e fechou a porta.
Meu sono foi mais tranquilo do que eu esperava. Com minhas dores e com os monstros lá fora, tive um sonho belo em uma casa no campo protegida por telas, com animais e hortas, uma vida simples, mas longa.
Acordei no meio da noite sabendo exatamente onde ir e o que precisávamos pra chegar lá, só precisava pensar uma forma de convencer a Alice sobre o plano, seria difícil pois ele soava um tanto suicida mas dada a situação atravessar a rua já soava como um plano suicida.

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